É de conhecimento geral que, nos últimos anos, as discussões ambientais, sociais, éticas e políticas tomaram proporções significativas em nosso país. Basta olhar para um passado próximo para concluir que, como nunca antes em nossa história, pautas relevantes vêm ganhando cada vez mais destaque, dentre elas: a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável; a igualdade de direitos; a equidade; a diversidade e, a inclusão e a busca por melhores condições de trabalho e qualidade de vida.
Alguns dos fatores diretamente relacionados a esse fenômeno são, sem dúvida, a expansão das inovações atrelada ao crescente uso e influência das redes sociais. Em um mundo cada vez mais globalizado e tecnológico, a comunicação online se tornou imprescindível na sociedade, possibilitando a criação e disseminação veloz dos mais variados tipos de conteúdo. De fato, o intenso fluxo de informações permite a expressão e o relacionamento de indivíduos de diferentes nichos socioculturais, personalidades e preferências, razão pela qual os debates acerca da sustentabilidade, equidade, inclusão, diversidade e da proteção dos direitos individuais e coletivos se fazem inevitáveis e cada vez mais urgentes.
Na esfera ambiental, os impactos atrelados à má gestão dos recursos naturais por parte de grandes e pequenas empresas descortina a necessidade de adoção de posturas ambientalmente responsáveis, capazes de trazer benefícios não apenas para o meio-ambiente como para as próprias organizações, que acabam por obter uma melhora de sua imagem, reputação e confiabilidade por parte de consumidores cada vez mais conscientes e engajados.
Nesse cenário, a adoção das práticas de ESG (sigla para Environmental, Social and Governance, em inglês) ganha cada vez mais força no mundo dos negócios. O conceito abrange a responsabilidade ambiental, social e de governança corporativa, representando a consciência de empresas que buscam reduzir os impactos negativos de suas operações no meio- ambiente, além de adotar as melhores e mais adequadas práticas administrativas.
Em resumo, o “E” ( Enviromental ) está relacionado à preservação do meio ambiente por meio de medidas como o uso sustentável dos recursos naturais, adoção de fontes limpas de energia, redução da emissão de poluentes e dos índices de desmatamento.
O “S” (Social) abrange a adoção de políticas para uma melhor relação da empresa com todas os entes que fazem parte de seu universo, incluindo o bem-estar dos colaboradores, a satisfação dos clientes, o respeito à diversidade e aos direitos humanos, além do bom relacionamento da empresa com a comunidade e seus habitantes.
O “G” (Governance), por sua vez, representa as diretrizes de governança corporativa e envolve questões como a relação com o governo, remuneração de executivos, a existência de canais de denúncias e demais mecanismos para impedir a corrupção, o assédio e as mais variadas formas de exclusão ou discriminação.
Importante observar que o ESG não é um conceito novo: a sigla foi utilizada pela primeira vez no início dos anos 2000, no relatório “Who Cares Wins” (em português, “Ganha quem se importa”), em uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU). De lá pra cá, o ESG tem ganhado destaque em uma sociedade que valoriza cada vez mais os negócios conscientes, comprometidos com o respeito ao meio ambiente e com a preservação da saúde e bem-estar da população, o que representa uma verdadeira mudança de paradigma nos modelos de produção e consumo vigentes.
Decerto, na realidade atual, não é mais viável que a obtenção de lucro seja o único objetivo das empresas. Empresas que visam apenas o lucro estão fadadas ao fracasso! É preciso considerar também os diversos impactos envolvidos nas operações, em consonância com os anseios de uma geração que vem priorizando o consumo de marcas mais transparentes, responsáveis e alinhadas com seus valores pessoais.
Nesse sentido, recentemente completaram- se dois anos desde que a Business Roundtable (associação das maiores corporações dos Estados Unidos) lançou, em agosto de 2019, um manifesto público assinado por centenas de CEOs de grandes empresas americanas, reafirmando o compromisso dessas com seus stakeholders e o bem-estar coletivo. De acordo com o grupo, muito além da obtenção de lucro para os empresários, as empresas são verdadeiros agentes de transformação social, cujo propósito é gerar valor para todas as partes interessadas.
Nesse fluxo, um outro fator importante a se observar é que os grandes investidores vêm considerando com cautela as práticas sociais, ambientais e de governança das empresas antes de investirem nelas o seu capital e, principalmente, a sua confiança. Nessa esteira, diversas são as empresas que buscam associar suas marcas com os ideais sociais e de sustentabilidade, tão preconizados atualmente.
A The Coca Cola Company, gigante do segmento bebidas, é um grande exemplo dessa tendência: No ano de 2020, foi classificada como a empresa de bebidas mais sustentável do mundo no Índice Dow Jones de Sustentabilidade 2020. Conforme informações expressas em seu website oficial, a empresa possui como propósito fundamental de criar um negócio sustentável, capaz de contribuir para um futuro melhor.
Desde o início da pandemia de covid-19, a empresa já investiu mais de R$ 55 milhões em iniciativas para a prevenção da doença e segurança alimentar das populações. Na esfera social, por meio do Instituto Coca-Cola Brasil, lidera um dos maiores programas de empregabilidade do país, visando ao desenvolvimento de comunidades de baixa renda por meio da inclusão produtiva de jovens. Seus eixos de atuação incluem capacitação, conexão com o mercado de trabalho e fomento do ecossistema.
Outro exemplo é a Samsung, multinacional sul- coreana do ramo de tecnologia. A empresa tem desenvolvido e implementado planos de ação regionais específicos para promover o uso de energia renovável, incluindo a compra do Certificado de Energia Renovável (Renewable Energy Certificate, na sigla em inglês REC) e contratos de compra de energia renovável (Power Purchase Agreements, na sigla em inglês PPA), em cada uma de suas regiões operacionais ao redor do mundo. A Samsung também está buscando reduzir a emissão de gases de efeito estufa durante todo o ciclo de vida do dispositivo da TV por meio da utilização de plásticos reciclados, dentre outras práticas.
O entendimento sobre o ESG é muito importante no que diz respeito à força de uma marca nos dias de hoje, influenciando, diretamente, em sua imagem e reputação perante os investidores e o público consumidor. A transparência e a verdade na divulgação das marcas (seus propósitos, mis- são e valores), por meio das publicidades e propagandas, quer através da mídia tradicional, quer por meio dos influencers nas mídias sociais, para o consumidor, são fatores determinantes para a conexão e lealdade entre esses dois protagonistas para que tenhamos uma sociedade mais justa, equilibrada e sustentável. Destarte, é imprescindível que as empresas dediquem especial atenção e planejamento ao que se refere a essa temática, cuja importância só tende a aumentar com o passar do tempo, sobretudo se considerados os valores, posicionamentos e preferências das gerações atuais e futuras.