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Pelé, o Rei das Marcas

Ainda no período de luto pela partida do maior de jogador de futebol de todos os tempos, aos 82 anos, a mídia relembrou os feitos e os recordes que marcaram a carreira de Pelé: 1282 gols, num período em que se jogava bem menos do que hoje, três Copas do Mundo (1958, 1962 e 1970), duas copas Libertadores (1962 e 1963), dois mundiais de clubes (1962 e 1963), escolhido pela Fifa como o melhor jogador do século XX e pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) o Atleta do Século, embora o Rei do Futebol nunca tenha jogado o torneio de futebol das Olimpíadas. Saindo um pouco da esfera esportiva, outro feito de Pelé foi ter sido apontado como uma das 100 maiores personalidades do último século pela revista americana Time.

O sucesso do Pelé dentro dos gramados é bastante conhecido, mas ele também brilhou fora dos estádios, sendo um ídolo da propaganda muito antes de o marketing esportivo virar moda. Edson Arantes do Nascimento conseguiu lucrar mais com a marca “Pelé” no mercado publicitário do que com premiações e salários esportivos, isso numa sociedade que nem sonhava ser tão midiática quanto a atual.

Em um exercício de comparação, a revista Forbes calculou, em 2020, quanto seria o rendimento de Pelé se jogasse nos dias atuais e o valor seria de US$ 223 milhões. Messi, o melhor jogador do mundo na época, ganhava US$ 126 milhões. Voltando dez anos nesta reflexão comparativa, analistas e especialistas no mercado publicitário avaliaram a marca Pelé em R$ 600 milhões em 2010. Em valores atuais seria o equivalente a R$ 1,6 bi.

Depois da passagem dele pelo Cosmos, de Nova York, Pelé se transformou em um garoto-propaganda muito requisitado, emprestando seu nome a campanhas e produtos de todos os tipos, de companhia aérea, empresa de cartão de crédito, remédio contra disfunção erétil, console de videogames, aparelho de celular, refrigerante, bebida isotônica… Só se manteve distante de bebida alcoólica e cigarro. Mas sua marca já era valiosa e monetizada antes. Na Copa de 70, no México, Pelé se abaixava com frequência para amarrar as chuteiras. Qualquer semelhança com os jogadores da atualidade, que são ímãs de dinheiro publicitário, não é mera coincidência…

Pelé fez o mundo descobrir o Brasil e seu nome virou uma marca de alto valor intangível. Sua assinatura é registrada como marca e outros símbolos associados a ele se tornaram ícones no inconsciente coletivo. Como a mítica camisa 10 que ele usou na Copa de 58, na seleção brasileira e no Santos, o soco no ar na comemoração de um gol e até a origem da expressão “gol de placa”. Em 1961, na partida Fluminense 1 X 3 Santos, Pelé marcou dois gols e um deles foi memorável. Para eternizar esse feito, o jornalista Joelmir Beting pagou, do próprio bolso, a confecção de uma placa de bronze com os dizeres: “Neste campo, no dia 5 de março de 1961, Pelé marcou o tento mais bonito da história do Maracanã”, assinando com o nome do jornal onde trabalhava. Assim surgiu a expressão “gol de placa”, ao se referir a um gol digno de beleza plástica. Curiosamente, não há registro visual desse gol e ele foi recriado em computador para o documentário “Pelé Eterno”.

O poder de uma marca não é mensurado apenas em valor monetário, mas humanitário. Além de incentivar pessoas a se esforçarem para alcançarem os mesmos resultados e influenciar pessoas a emularem suas ações, estratégias e negócios, o poder de atração e a influência conhecido atualmente como soft power, uma marca é capaz de parar guerras. Foi esse efeito que Pelé conseguiu em 1969, numa excursão do Santos pela Nigéria. O país africano vivia o conflito conhecido como Guerra de Biafra, que durou entre 1967 e 1970 e causou a morte de milhões de pessoas. Para o Santos chegar em segurança ao estádio Beni City, foi preciso um cessar-fogo. O conflito foi interrompido para que as pessoas pudessem ver o Rei Pelé jogar. Coincidência ou não, Pelé virou Cidadão do Mundo, prêmio que recebeu da ONU em 1977.

Cidadão e Marca do mundo. Desde 2009, todos os direitos de uso do nome Pelé pertencem à empresa americana Sports 10. No Brasil, os direitos de Propriedade Intelectual do Pelé são explorados pela PELE IP OWNERSHIP LLC (que possui 46 casos ativos no INPI) e pela JACOBS DOUWE EGBERTS BR COMERCIALIZAÇÃO DE CAFÉS LTDA (que possui 15 casos ativos no INPI).

Edson Arantes do Nascimento morreu, aos 82 anos, mas a marca Pelé continua viva. Em relação ao direito marcário, a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, XIX, dispõe in verbis que “a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País”.

Na legislação, o termo “propriedade” faz referência às marcas. Uma marca é um bem intelectual que pode ter proteção perpétua, desde que o produto ou serviço prossiga firme no tempo, atendidas as formalidades administrativas do INPI, como por exemplo, pagamento de taxas em cada decênio.

Além de todas as contribuições para o esporte e para o mundo dos negócios, Pelé era incapaz de se livrar de outra paixão: a arte. Como ator, o Rei do Futebol participou em diversas novelas e filmes, inclusive de Grande Otelo e até mesmo de Hollywood, quando contracenou com Sylvester Stallone, Michael Caine e Bobby Moore em “Fuga para Vitória”, de 1981. Como músico, de acordo com o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), o atleta possuía 34 obras musicais e 15 gravações devidamente registradas. Ainda de acordo com o ECAD, Pelé “teve mais de 85% de seus rendimentos em direitos autorais provenientes dos segmentos de rádio e TV’s”. Com seu falecimento, os direitos autorais sobre suas canções foram transmitidos a seus herdeiros, até que sua obra caia em domínio público, em 2093.

Saudades do craque Pelé, que seu exemplo e nome continue sendo sinônimo de excelência.

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